18/10/2023 às 08:57
Conflito Israel-Hamas traz riscos de aumento de custos para o agro brasileiro
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A guerra Israel-Hamas tem potencial para trazer riscos de aumento de custos no agronegócio brasileiro, sobretudo no que diz respeito ao encarecimento do petróleo e derivados, como, por exemplo, fertilizantes, alertam especialistas em comércio internacional. Em cenário semelhante à invasão da Rússia ao território ucraniano, o conflito no Oriente Médio deverá impactar nas exportações israelenses de adubos, em particular, os de cloreto de potássio.Claudio Felisoni, presidente do Instituto Brasileiro dos Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar) e professor da FIA Business School, observa que o Brasil exporta para Israel, especialmente soja e carnes [de frango e bovina] e importa tecnologia agrícola, principalmente na área de irrigação e fertilizantes."Embora sejam aspectos ponderáveis, o maior impacto do conflito não é direto sobre o agronegócio. O petróleo responde por aproximadamente um terço das fontes de energia do mundo. Esta nova guerra terá o efeito de ampliar as incertezas, hoje já, bastante amplificadas com o conflito Rússia-Ucrânia e as operações de rescaldo suscitadas pela pandemia."De acordo com Felisoni, maiores incertezas implicam em pressão sobre as taxas de juros e desvalorização das moedas locais frente ao dólar, como, por exemplo, o Real. "Naturalmente, esta conjuntura acarreta em maiores custos de financiamento e encarecimento de importações de modo geral. No Brasil, o Banco Central iniciou uma trajetória de redução da taxa básica de juros. Esses acontecimentos podem brecar esse movimento de baixa ou até mesmo, dependendo dos desdobramentos no Oriente Médio, voltar a majorar a Selic."Para o economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Pierre-Olivier Gourinchas, é possível que os preços do petróleo subam 10%, o que pode reduzir o crescimento do PIB global em 0,15% e aumentar a inflação em 0,4%. Além disso, o FMI projeta que o crescimento da economia mundial em 2023 deve ser de 3%, um ritmo mais lento do que no ano passado, quando o avanço foi de 3,5%.Rodrigo Cohen, analista de comércio exterior e co-fundador da Escola de Investimentos, salienta que o receio que países como Síria e Irã entrem na guerra colaboram para que o preço do petróleo suba. "Ações do setor devem continuar subindo porque qualquer guerra no Oriente Médio pode trazer escassez. Qualquer escassez de algum ativo faz com que seu preço suba. O maior temor é em relação ao ingresso de outros países no conflito. E com isso, podemos ter muita volatilidade no mercado e dólar sem previsão de queda", comenta.Leandro Petrokas, mestre em finanças e diretor de research da Quantzed, também vê impactos para o setor alimentício: "um eventual aumento do petróleo e dos combustíveis pode gerar um efeito em cascata dos preços de diversos produtos, incluindo os alimentos. O modal rodoviário é o principal meio de transporte de carga no Brasil e o combustível é um dos maiores custos do transporte. Como é muito difícil aumentar a oferta de alimentos em um curto espaço de tempo (há restrições de plantação, de transporte, de armazenagem de grãos e de produção industrial em geral), podemos ver um aumento significativo nos preços de alimentos, se o cenário de aumento do petróleo se concretizar e não houver mudanças na política de preço dos combustíveis", argumenta.Ademais, Felisoni, do Ibevar, acentua que eventuais riscos logísticos no transporte de mercadorias no Oriente Médio podem comprometer a corrente comercial do agro brasileiro com países árabes, que são grandes consumidores de proteína animal do Brasil, sobretudo carne de frango. "Para o mundo árabe, o Brasil exporta também outros produtos agrícolas, além das carnes e soja, incluindo de modo mais destacado açúcar, milho e café."
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