05/04/2024 às 17:19
ESPECIAL: A Embrapa precisa se reinventar para os próximos 50 anos, destaca Marcelo Morandi, chefe de Relações Internacionais da empresa pública
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Chefe de Relações Internacionais da Embrapa, Marcelo Morandi é o entrevistado do Broto desta semana. Na conversa, o engenheiro agrônomo pontua os desafios da estatal para os próximos 50 anos e apresenta o papel do Brasil na discussão global sobre as mudanças climáticas. BROTO: Com 50 anos completados no ano passado, como você enxerga a Embrapa hoje no agronegócio brasileiro?Marcelo Morandi: A Embrapa tem uma história de muito sucesso, de evolução junto com o agro brasileiro. Obviamente, não foi a Embrapa sozinha, mas em conjunto com todo um ambiente de pesquisa nas universidades, nos institutos estaduais, junto também com os produtores e associações. E, agora, estamos pensando o que será dos próximos 50 anos. Temos que nos reinventar, porque os desafios mudam.Atualmente, enfrentamos grandes desafios, como a agricultura digital, o uso de insumos biológicos e toda a área da biologia relacionada à produção agropecuária. Além disso, enfrentamos o desafio crucial da inclusão dos pequenos produtores, garantindo que tenham acesso às tecnologias necessárias para transformar suas operações.Outra questão é a adaptação às mudanças climáticas. Precisamos explorar como a agricultura pode contribuir para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e ao mesmo tempo tornar-se resiliente diante dos eventos climáticos extremos que enfrentamos, considerando sua extrema vulnerabilidade.BROTO: O que a Embrapa tem feito em relação a esses desafios? Marcelo Morandi: A Embrapa tem se dedicado a apoiar os pequenos produtores, ciente de que são frequentemente os mais afetados pelas mudanças climáticas, seja devido às limitações financeiras ou à falta de acesso à tecnologia e conectividade. A agricultura como um todo é extremamente vulnerável e sensível ao clima, mas os pequenos produtores, em particular, possuem uma rede de proteção mais frágil, tornando-os especialmente dependentes de apoio significativo.A Embrapa concentra seus esforços em três áreas principais, com ênfase na questão climática. Uma delas é o desenvolvimento de sistemas de produção de baixo carbono, conhecidos como agricultura de baixo carbono, visando melhorar os sistemas de produção para reduzir as emissões de gases do efeito estufa. Isso inclui sistemas de plantio, práticas que beneficiam a saúde do solo, como a integração lavoura-pecuária-floresta, o uso de plantas de cobertura e inoculantes no solo para aumentar a capacidade das plantas de resistir ao estresse hídrico e otimizar a absorção de nutrientes do solo.BROTO: Como você vê o papel do Brasil na questão das mudanças climáticas?Marcelo Morandi: O Brasil desempenha um papel significativo tanto na agricultura quanto nas questões relacionadas às mudanças climáticas. Um aspecto importante é que o perfil de emissões do Brasil difere consideravelmente da maioria dos países desenvolvidos. Enquanto nesses países os principais emissores estão nos setores de energia, transporte e indústria, o Brasil possui uma matriz elétrica altamente renovável, com uma proporção significativa de fontes como biomassa e cogeração, sendo o setor sucroenergético um componente crucial desse cenário.Os biocombustíveis desempenham um papel fundamental no Brasil há décadas, com o etanol já sendo amplamente utilizado na gasolina desde os tempos do Proálcool, e atualmente há planos de aumentar a mistura de etanol na gasolina para até 30%, assim como o uso de biodiesel no diesel. Isso faz com que o perfil de emissões brasileiro seja único, com as principais fontes de emissão concentradas na mudança de uso da terra e, em segundo lugar, na agricultura, abrangendo tanto a pecuária quanto outros processos de produção. Como um dos principais produtores de commodities e produtos agropecuários do mundo, o Brasil tem a capacidade de apresentar um modelo agrícola diferenciado e sustentável.BROTO: Sobre a realização da COP30 no Brasil no ano que vem. Você acha que é o momento de o País mostrar o que tem sido desenvolvido aqui dentro?Marcelo Morandi: Com certeza, estamos vivenciando um momento de crescente importância. Este ano, o Brasil ocupa a presidência do G20, um grupo composto pelas 20 maiores economias do mundo. São 19 países, além de duas uniões, a União Europeia e a União Africana. O G20 representa aproximadamente 85% do PIB global e mais de 70% da população mundial, tornando-se um grupo de grande relevância internacional.Neste ano, o Brasil tem a oportunidade de demonstrar as ações que tem desenvolvido nesse âmbito. O tema principal do G20 este ano é a segurança alimentar, a redução da fome, da pobreza e também o combate às mudanças climáticas. Portanto, já estamos testemunhando esse movimento em andamento.Em maio, a Embrapa sediará um dos eventos oficiais do G20, denominado MAX, que é o encontro dos cientistas de agricultura desses países. Durante esse evento, as principais instituições de pesquisa agropecuária desses países se reunirão para discutir como a ciência pode contribuir para melhorar a sustentabilidade da agricultura e como podemos ser parte da solução para enfrentar os desafios das mudanças climáticas.BROTO: Em tempos de agenda ESG, qual é o papel da Embrapa na sustentabilidade do Brasil?Marcelo Morandi: Enorme. Por exemplo, nossa unidade de meio ambiente tem suas raízes na década de 80, uma época em que questões de sustentabilidade eram pouco discutidas no contexto agrícola. Mesmo assim, já tínhamos uma unidade dedicada a esses temas.Da mesma forma, nossa unidade de agricultura digital está prestes a completar 40 anos. Em uma época em que a internet ainda não existia, já estávamos trabalhando nessa área sob o nome de Informática Agropecuária, desenvolvendo soluções de dados e softwares para aprimorar e facilitar a agricultura.Portanto, ao longo do tempo construímos uma visão de longo prazo, sempre preocupados em garantir que nossas tecnologias não apenas promovessem eficiência no sistema de produção, mas também gerassem renda, emprego e qualidade de vida para os trabalhadores e produtores rurais. A sustentabilidade sempre foi um componente fundamental em nossa abordagem.Em resumo, os três elementos do que hoje é chamado de ESG – ambiental, social e governança – sempre estiveram presentes em nossas avaliações de tecnologias. Sempre valorizamos esses aspectos em nosso trabalho.
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