07/03/2025 às 17:42
ESPECIAL: Agro brasileiro se prepara para nova regulamentação da UE
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O agro brasileiro enfrenta novos desafios com a nova regulamentação europeia, o EUDR (European Union Deforestation Regulation), que deve entrar em vigor em 30 de dezembro de 2025. Para que os produtores brasileiros enquadrem seus produtos às novas exigências, a padronização da rastreabilidade na cadeia produtiva é essencial para garantir o acesso ao mercado europeu.O EUDR vem para definir um critério rígido: nenhum produto proveniente de áreas desmatadas poderá ser comercializado na União Europeia. Para garantir essa conformidade, os produtos precisam estar acompanhados de informações precisas sobre sua origem. É como se cada lote de soja, café ou carne precisasse de uma certidão de nascimento, detalhando exatamente onde foi produzido.Sete cadeias produtivas serão diretamente impactadas. São carne e couro, madeira, soja, café, cacau, óleo de palma e borracha. No Brasil, essas cadeias são fundamentais para a economia. Qualquer barreira de entrada em mercados internacionais pode representar perdas significativas.Segundo o presidente da Federação da Agricultura da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Gedeão Pereira, o Brasil tem consolidado sua posição no cenário mundial de produção e exportação de alimentos, o que tem atraído os olhares de importantes adversários. “As barreiras sanitárias, ambientais e comerciais que enfrentamos são reflexo da força da nossa agricultura. Mas seguimos trabalhando incansavelmente, participando de feiras, promovendo nossos produtos e buscando agregar valor ao que ainda nos falta: marcas próprias, já que somos líderes em commodities."A regulamentação exige que todos os produtos dessas cadeias forneçam evidências concretas de rastreabilidade para garantir a conformidade com as novas normas ambientais. O grande problema é que as cadeias produtivas não são simples.No caso da carne bovina, um único animal pode passar por diversas fazendas ao longo de sua vida, o que torna a rastreabilidade um verdadeiro quebra-cabeça. Já a soja, muitas vezes é transportada e armazenada em grandes lotes misturados, exige um método diferente de controle.Essa complexidade pode ser comparada a um pacote de correspondências sem rastreamento – sem um código de barras ou QR Code padrão, ninguém sabe exatamente por onde passou e quem foi o responsável por cada etapa.Por outro lado, o coordenador de Produção Animal da CNA, João Paulo Franco, ressalta que o Brasil possui legislação para tratar deste assunto e o posicionamento da União Europeia é uma imposição unilateral.“Em uma relação comercial, as partes envolvidas colocam na mesa suas necessidades, o comprador diz o que precisa e o vendedor diz o quanto isso custará. Se este fosse o caso, poderíamos continuar atendendo a Europa via protocolos privados, onde o produtor se propõe a entregar um produto mediante ao pagamento de um prêmio. Nestas condições estamos prontos para atender qualquer cliente.”Diante desse cenário, padrões de identificação, como, por exemplo, os da Associação Brasileira de Automação - GS1 Brasil surgem como ferramentas que podem transformar esse emaranhado de informações em um sistema padronizado, global e confiável.Os padrões globais da GS1, como o GTIN (Global Trade Item Number), GLN (Global Location Number) e EPCIS (Electronic Product Code Information Services), permitem que as informações de rastreabilidade sejam organizadas de forma estruturada e acessível.Isso garante que os dados de um lote de soja ou de um boi abatido possam ser lidos e interpretados corretamente em qualquer parte do mundo. Apesar das vantagens, ainda existem desafios significativos para a adoção dos padrões GS1 no Brasil. Algumas cadeias produtivas já desenvolveram sistemas próprios e podem resistir à mudança. É como pedir para alguém que já fala um dialeto próprio adotar um novo idioma.O esforço inicial pode ser grande, mas, a longo prazo, a comunicação se torna mais padronizada, global e eficiente. Apesar dos esforços do setor, é necessária maior integração dos dados, levando as informações de origem até o produto, por exemplo, por meio da identificação individual do animal e aprimorando os processos de rastreabilidade dentro do frigorífico, na distribuição e no varejo. O setor agro pode enxergar a rastreabilidade não como um entrave burocrático, mas como um diferencial competitivo.
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