18/10/2024 às 17:06

ESPECIAL: Conectividade rural: o desafio que limita a inovação e competitividade no agronegócio

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Durante o “24º Seminário de Planejamento Estratégico Empresarial” da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ), foi discutido um desafio ainda presente no cotidiano dos produtores rurais: a falta de conectividade e acesso à internet.

Entre os principais impactos da ausência de rede nas áreas agrícolas, destacam-se: a dificuldade no uso de tecnologias de precisão, que dependem de conexão para monitorar diversas variáveis; o acesso limitado a informações em tempo real, o que compromete a tomada de decisões no campo; a gestão remota de equipamentos, como máquinas agrícolas automatizadas, que necessitam de conectividade para operar de maneira eficiente; e obstáculos à capacitação e educação no setor agrícola, já que muitos produtores dependem de recursos online para treinamentos, troca de conhecimento e adoção de novas técnicas de cultivo e manejo.

Além desses fatores, a precariedade da infraestrutura de conectividade afeta diretamente a competitividade no mercado global, uma vez que a falta de rede coloca os agricultores em desvantagem. Isso limita a adoção de práticas sustentáveis e inovadoras, que poderiam reduzir custos e aumentar a produtividade. Além disso, dificulta o acesso direto a mercados, restringindo o poder de negociação e a venda de produtos agrícolas.

Durante o evento, especialistas concluíram que o avanço das tecnologias digitais — de hardwares e softwares — no maquinário agrícola será ineficaz se a conectividade nas áreas produtivas continuar limitada. Esse cenário contribui para a desconfiança dos produtores em relação às soluções digitais, já que eles não conseguem observar benefícios como redução de custos, economia de tempo e ganhos de produtividade, justamente pela falta de acesso à internet no meio rural.

A carência de rede também prejudica o crescimento das indústrias de máquinas e equipamentos voltados ao agro. Segundo pesquisa da ABIMAQ, o setor deve crescer R$ 56 bilhões em 2024, uma redução de 25% em relação ao ano anterior.

Por outro lado, de acordo com o Indicador de Conectividade Rural (ICR), medido pela ConectarAGRO, a tendência é de aumento no acesso à internet e à conectividade nas zonas rurais. O indicador revela que a proporção de propriedades rurais com cobertura de internet 4G ou 5G passou de 37% para 43,8%, um avanço de 6,8 pontos percentuais entre abril e setembro deste ano. O levantamento também indica que a área de uso agrícola conectada no Brasil cresceu de 19% para 23,8% no mesmo período.

A ConectarAGRO explica que o aumento da cobertura de internet ocorreu principalmente em regiões próximas a rodovias e centros urbanos, favorecendo o acesso de pequenas propriedades, cujas lavouras agora estão totalmente conectadas. Áreas de preservação ambiental e territórios indígenas também registraram expansão na cobertura, aumentando sua representatividade em relação às áreas agrícolas nos municípios.

O crescimento da conectividade rural, como demonstrado pela pesquisa do ICR, representa um avanço significativo, mas ainda há um longo caminho para que todos os desafios sejam superados. Para resolver os problemas de conectividade e maximizar os benefícios desse progresso, diversas ações podem ser implementadas:

Expansão da infraestrutura de telecomunicações: A falta de infraestrutura adequada continua sendo um dos principais obstáculos. O aumento na cobertura 4G e 5G é positivo, mas é essencial a instalação de mais torres de transmissão, cabos de fibra óptica e sistemas de comunicação via satélite. Parcerias público-privadas podem ser uma solução eficaz para essa expansão, com o governo incentivando o setor privado por meio de subsídios ou incentivos fiscais.

Uso de tecnologias alternativas: Em áreas onde a instalação de infraestrutura tradicional é inviável, soluções como internet via satélite e redes de rádio de longo alcance (LoRa) podem ser adotadas de forma complementar ou temporária.

Incentivo à adoção de tecnologias no campo: Mesmo em regiões com conectividade, muitos agricultores enfrentam dificuldades para adquirir e implementar tecnologias digitais, seja por limitações financeiras ou por falta de conhecimento. O programa Pronaf Mais Alimentos, do Banco do Brasil, é uma solução existente, oferecendo linhas de crédito para que produtores possam investir na ampliação de suas operações, aquisição de maquinário e outros recursos.

Capacitação e suporte técnico: Além de aumentar a conectividade, é fundamental capacitar os agricultores para utilizarem essas novas tecnologias. Instituições como o SENAR (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) e a EMBRAPA já oferecem treinamentos voltados para o uso de tecnologias digitais no campo, ajudando a maximizar os impactos positivos da conectividade.

Embora os avanços apontados pelo Indicador de Conectividade Rural sejam encorajadores, a solução completa dos desafios de conectividade nas áreas rurais exige uma abordagem multidimensional, com a participação de governos, instituições públicas e privadas, promovendo investimentos em infraestrutura, tecnologia, capacitação e inovação.

A expansão da conectividade não apenas resolve questões de produtividade e gestão no campo, como também transforma a agricultura em uma atividade mais moderna, sustentável e competitiva no cenário global.
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