01/10/2024 às 17:20

ESPECIAL: Emprego de tecnologia no campo pode ser diferencial para lidar com eventos climáticos extremos

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A crescente demanda global por alimentos, impulsionada pelas projeções de que a população mundial alcance 9,7 bilhões de pessoas em 2050, coloca uma pressão significativa sobre o setor agropecuário, que deve buscar atender todo esse aumento sem expandir as áreas de cultivo e criação.

Esse difícil, porém, alcançável, desafio só possui uma solução: empregar tecnologia e automação nos processos produtivos.

Diante desse panorama e buscando mapear e entender melhor a situação do Brasil nesse processo, a Associação Brasileira de Automação-GS1 lançou em 2019 o Índice Agrotech, que mensura o nível de automação e digitalização nas fazendas brasileiras.

“O Índice Agrotech aponta que a automação permite otimizar o uso de recursos naturais, integrar dados com o sistema de gestão para a tomada de decisões mais precisas e aumentar a produtividade de forma sustentável”, explica Marina Pereira, gerente de Pesquisa & Desenvolvimento da Associação Brasileira de Automação-GS1.

A divulgação mais recente do indicador, feita com base em dados coletados entre outubro de 2023 e janeiro de 2024, com cerca de 450 decisores de propriedades, mostra que, embora haja um crescimento contínuo em alguns segmentos, o agronegócio brasileiro ainda enfrenta desafios para a plena adoção de tecnologias.

“Se olharmos o cenário geral, é perceptível a evolução na automação do campo. De 2019 a 2023, o índice Brasil evoluiu 32%”, afirma Pereira. Individualmente, os indicadores setoriais da agricultura e da pecuária evoluíram no período 29% e 28%, respectivamente.

Segundo a gerente de Pesquisa & Desenvolvimento da Associação Brasileira de Automação, enquanto a agricultura apresenta maior dificuldade em integrar soluções como máquinas e equipamentos ao sistema de gestão, a pecuária, especialmente nas frentes de corte, leite, suinocultura e avicultura, tem mostrado crescimento constante.

Regionalmente, o Sudeste lidera o avanço tecnológico no Brasil, com um crescimento de 67% no indicador do estudo desde 2019. Outras importantes regiões produtoras do país, como o Centro-Oeste e o Sul, embora tenham registrado reduções recentes em seus índices, ainda superam a média nacional de 0,205 ponto – o indicador varia de 0 a 1 ponto, sendo zero a ausência total de equipamentos, sistemas ou maquinário, e 1 a digitalização completa dos processos produtivos.

Em exclusiva para a Broto, Marina concedeu maiores detalhes do estudo: 40% dos produtores brasileiros adotam sistema para gerenciamento das atividades no campo – porém, dessa parcela, apenas 8% recebem os dados de forma automática das máquinas e equipamentos, enquanto 70% ainda trabalham com recebimento manual.

Seis em cada dez produtores aplicam tecnologias em prol da preservação ambiental e de ações sustentáveis.

Em relação à conectividade, 77% possuem acesso à internet no campo, contudo, apenas 42% dessa fatia têm alcance do sinal em todo o território da fazenda.

Tecnologia como amortecedor dos danos climáticos

Com base no cenário atual, conforme aumenta a ocorrência de eventos climáticos extremos, cresce também a necessidade da adoção de tecnologias de automação nos processos do dia a dia, além de inovações que ajudem a aumentar a produtividade e a competitividade.

“A tendência para os próximos anos é a incorporação de um volume maior de tecnologias e isso pode ser potencializado após os últimos eventos climáticos que ocorreram nos últimos meses”, explica a executiva.

De acordo com a mais recente atualização da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), as perdas com incêndios causaram, de junho a agosto, um prejuízo estimado de R$ 14,7 bilhões em 2,8 milhões de hectares de propriedades rurais no Brasil.

“Ainda não é possível prever como o setor se comportará diante destes desastres ambientais. O que podemos afirmar é que a tecnologia surge como uma ferramenta que ajuda na prevenção e na preservação dos recursos naturais, pois a reconstrução demandará instalações inovadoras que apoiem a retomada sustentável das atividades e produção das regiões mais afetadas”, conclui Pereira.

De acordo com a gerente de Pesquisa & Desenvolvimento da Associação Brasileira de Automação, a adoção de soluções como sensores, drones, inteligência artificial, Internet das Coisas (IoT) para o monitoramento em tempo real por meio da conexão de softwares de gestão de inteligência agronômica, software para mapeamento terrestre e aéreo, soluções autônomas, geolocalização, entre outras no campo, se tornam cada vez mais cruciais.

“A tecnologia está aí para nos apoiar e oferece ferramentas e soluções inovadoras que podem otimizar processos, reduzir o impacto ambiental e aumentar a eficiência da produção agrícola”.

Automação para pequenos e médios produtores

O estudo da Associação Brasileira de Automação também destaca que pequenas fazendas, devido à menor capacidade de realizarem investimentos, enfrentam maiores dificuldades para adotar inovações.

“Ao contrário das fazendas de grande porte, onde a adoção da automação e tecnologia muitas vezes é uma diagonal crescente, as médias e pequenas fazendas enfrentam desafios maiores porque necessitam trabalhar não apenas para a manutenção das atividades produtivas, mas também para terem recursos para investir em soluções modernas e disruptivas. Para esses produtores, a automação é essencial para garantir uma boa gestão e manter a competitividade, impulsionando a eficiência e desempenho produtivo”, comenta Marina.

No período de 2019 a 2023, de acordo com o Índice Agrotech, enquanto as grandes fazendas cresceram 51% na adoção de novas tecnolgias, as médias e pequenas propriedades cresceram moderadamente, sendo 16% e 29% respectivamente.
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