08/02/2024 às 15:29
ESPECIAL: Fertilizante organomineral é alternativa sustentável, com tecnologia e inovação, defende CEO da Agrion
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Na avaliação do CEO da Agrion, Ernani Judice, o uso de fertilizantes minerais tem perdido sua eficácia ao longo do tempo. Em contrapartida, os insumos organominerais, que utilizam resíduos da cadeia da cana-de-açúcar por exemplo, contribuem para a economia circular e aumentam a produtividade das plantas, o que afeta o preço final para o produtor rural.Em uma entrevista exclusiva para o Broto, o executivo discute o papel fundamental da Agrion na descarbonização do Brasil e o potencial de sua tecnologia para além das fronteiras nacionais.BROTO: Qual a atividade da Agrion no setor de fertilizantes? Ernani Judice: A Agrion é uma empresa de base tecnológica que entende que o fertilizante mineral tradicional que a agricultura utilizou durante muitos anos já deu o que tinha que dar.A gente já entende que para o Brasil, com a economia que a gente tem no agro, e, principalmente, com o tipo de clima e solo, é um tipo insumo que não faz mais sentido.Pensando nisso, a gente desenvolveu um fertilizante organomineral, tanto o sólido quanto o líquido, que reutiliza resíduos da cadeia da cana-de-açúcar, corda de filtro e vinhaça na sua produção.Dessa forma, temos produtos mais eficientes, que podem ser aplicados em todo o canavial, levando o benefício dessa matéria orgânica importante para o solo brasileiro e fazendo uma liberação gradual dos nutrientes. No final das contas, a gente faz a economia circular com aumento de produtividade, com tecnologia e inovação.BROTO: Levando esses pontos em consideração, qual o papel da Agrion no processo de descarbonização do Brasil?Ernani Judice: Na cadeia do fertilizante o impacto é muito grande. No Brasil, 60% do fertilizante que você aplica não é absorvido pela planta e contamina o meio ambiente. Então, você tem perdas por volatilização de nitrogênio, por exemplo, lixiviação de potássio.Nossa proposta é diminuir o uso desse insumo mineral, de forma eficiente, porque tem uma liberação controlada. Logo, você leva menos para o campo, a planta absorve mais e você aumenta a produtividade, reduzindo todo esse impacto da cadeia.Também tem o RenovaBio, a gente aumenta muita geração de Cbios para as usinas que usam o nosso produto na cadeia como um todo, a questão toda da redução do parque ambiental da descarbonização é muito forte, é muito evidente.BROTO: Essa tecnologia tem como ser exportada para outros países, para outros lugares?Ernani Judice: Tem, sim. A minha ideia de fazer esse modelo de negócio nasceu nos Estados Unidos. A gente já tinha esse produto num outro modelo, com isso, eu levei para ver se os norte-americanos já tinham alguma coisa parecida, que podia acabar com a nossa proposta.Eles ficaram impressionados, porque não existia nada igual. Então eu tenho conversado com os Estados Unidos, com a Austrália e com grandes produtores de açúcar, porque a gente hoje está muito voltado para a cadeia da cana-de-açúcar, porque ela gera muito resíduo e consome muito fertilizante. Mas a gente tem projetos também com frigoríficos, com confinamentos, com empresas de papel e celulose.BROTO: Então dá para ser replicado em outros modelos de negócios? Você citou o caso das empresas de celulose anteriormente. Ernani Judice: Reutilizando os resíduos da floresta e fazendo uma adubação mais eficiente de uma maneira geral, o que a gente precisa fazer é usar cada vez mais produtos alinhados com o ecossistema, que sejam orgânicos e biológicos.Mas no Brasil, com um mercado de 40 milhões de toneladas de fertilizante químico mineral, você não muda isso de uma de uma vez só. O insumo organomineral é um produto de transição. Quanto mais eu enriquecer esse orgânico, mais eu vou reduzindo o mineral. Com o tempo a gente vai utilizando fontes diferentes, posso pegar resíduo animal, misturar isso com a torta de filtro, enriquecer e comprar menos mineral, por exemplo. Com o tempo a gente vai evoluir e a agricultura será muito mais eficiente.BROTO: Você acha que o fertilizante organomineral é o insumo do futuro?Ernani Judice: Eu acho que é um caminho sem volta. É o fertilizante do futuro, e no mundo, tem muita agricultura que vai precisar usar, em lugares com solos arenosos, onde você tem essa questão climática, que impacta demais o nosso perfil.Estamos enfrentando uma volatilidade nos preços desses insumos mundo afora, com a Rússia e, desde outubro, com o conflito no Oriente Médio – Israel é um país também que exporta fertilizante para cá. O Brasil, essa potência agrícola, importa 85% do seu fertilizante. Quanto pior o preço, pior a condição. É o fertilizante do futuro para a questão ambiental e para toda essa questão geopolítica, que influência muito o produtor rural, na ponta final.
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