05/12/2023 às 16:59

ESPECIAL: Incertezas climáticas desafiam produtividade do feijão no Brasil

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O feijão é um alimento tão presente na vida dos brasileiros que é difícil imaginar uma refeição sem ele. O grão, que faz parte da dieta básica das famílias desde o final do século 19, é considerado um item indispensável na mesa dos moradores de todas as regiões do País.

Segundo levantamento realizado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ao menos 60% da população come feijão regularmente, e não é difícil entender os motivos.

Além disso, a leguminosa é fonte valiosa de proteínas, fibras, vitaminas e minerais essenciais para a saúde humana e de todos os alimentos nutritivos, está entre os de menor custo. Dessa forma, causa preocupação o impacto que as mudanças climáticas podem provocar no cultivo de feijão no Brasil.

No início do ano, uma pesquisa realizada pela Embrapa em parceria com a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), constatou que o cenário futuro, de fato, representa uma ameaça para o cultivo de feijão no Brasil.



A partir de modelos matemáticos altamente sofisticados que consideram projeções do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) das Nações Unidas sobre aquecimento global, o estudo conclui que, até 2050, a temperatura do ar na área de produção de feijão no Brasil aumentará entre 1,23 a 2,86 graus Celsius. A pesquisa chegou até mesmo a apontar as regiões que serão mais afetadas – serão localidades da região Centro-Oeste e dos estados de Minas Gerais e da Bahia.

De acordo com Alexandre Bryan Heinemann, pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão e um dos responsáveis pelo estudo que foi publicado na revista científica Agricultural Systems, o aumento da temperatura do planeta levará inevitavelmente à perda de produtividade das lavouras. O especialista diz que a elevação do calor deverá interferir na fase reprodutiva das plantas, provocando o chamado abortamento de flores e a não formação de vagens, que é onde ficam os grãos – o resultado desse processo é óbvio: lavouras pobres e menos fecundas.

Muitas regiões produtoras de feijão no Brasil já enfrentam regimes irregulares de chuvas e secas prolongadas, fenômenos que têm se intensificado nos últimos anos. Além disso, o calor excessivo estimula o surgimento de pragas e doenças, o que eleva o custo de produção.

Afinal, o que os agricultores devem fazer para se ajustar à nova realidade? Heinemann ressalta que os programas de melhoramento genético desenvolvidos por instituições de pesquisa como a Embrapa poderão oferecer saídas, mas elas não são simples.



O cultivo de feijão no Brasil vive um impasse. Enquanto as lavouras enfrentam cenário adverso – a provável queda de rendimento dos cultivares em decorrência do aumento da temperatura global –, a produção terá de crescer para atender ao aumento da demanda. Segundo projeções, até 2050 será preciso acrescentar pelo menos 1,5 milhão de toneladas à produção atual, o que representaria uma adição expressiva de 44%. Como se faz isso? Heinemann tem a resposta: investimentos em pesquisa e tecnologia em contraponto aos desafios impostos pelas mudanças do clima.

Diante do cenário desafiador, instituições de pesquisa agrícola e empresas do setor, de fato, têm se empenhado na busca por variedades de feijão mais resistentes ao estresse climático. O objetivo é desenvolver cultivares adaptados às novas condições e, portanto, capazes de suportar períodos de seca, altas temperaturas e outras adversidades relacionadas ao clima.

As mudanças climáticas provocarão algum tipo de impacto em diversas culturas agrícolas. Estudos realizados pelo Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) revelaram que, até 2070, a falta de chuvas e os veranicos de longa duração poderão reduzir em 40% as áreas destinadas ao plantio de soja no Brasil. São os extremos que preocupam.

Não é mais possível dar as costas para o fenômeno. Um exemplo recente mostra o impacto severo da nova realidade: o ano de 2021 ficou marcado como o de seca mais intensa da história do Brasil. De acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), 40% do território brasileiro sofreu com a falta de chuvas, uma tragédia que se espalhou por estados inteiros e impactou diretamente 2.445 municípios.
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