08/03/2024 às 16:00
ESPECIAL: “O protagonismo feminino no agronegócio é imprescindível”, ressalta Diana Jank, diretora de Marketing na Letti A²
Compartilhar
No mês em que se comemora o Dia da Mulher, o Broto conversou com mulheres do agronegócio que têm feito a diferença no setor. Nossa primeira convidada é a diretora de Marketing na Letti A² | Agrindus S/A, Diana Jank.Em entrevista, Jank encoraja outras mulheres a ingressarem no campo, destacando a importância de líderes apoiarem a igualdade de gênero e incentivando seus pares a nunca desistirem.BROTO: Como você iniciou sua trajetória no agronegócio? Poderia compartilhar um pouco sobre sua jornada até o momento?Diana Jank: Sou filha, sobrinha e neta de engenheiros agrônomos e nasci em uma fazenda que produz leite no interior do Estado de São Paulo desde 1945. Diferente do que muitos pensam, fui bastante incentivada pelos meus pais a ir além das ciências agrárias e foi justamente o caminho que percorri. Me mudei para São Paulo quando entrei na faculdade e me tornei publicitária em 2017. Até este momento, tinha certeza de que não queria trabalhar no campo e sim com moda - área que eu já atuava e havia feito diversos cursos paralelos durante a faculdade. Entrei propriamente no Agronegócio em 2018, depois de um convite feito pelo meu tio informando que estávamos com uma oportunidade de iniciar um grande projeto de reposicionamento da nossa marca de leite e derivados. Enxerguei, com esse convite, a possibilidade de trabalhar na área que estudei e dentro de um contexto familiar repleto de significados e propósitos (algo fundamental para mim!) e aí aceitei sem nenhuma dúvida! Hoje, sou responsável por toda gestão da marca Letti A² ao lado da minha irmã, Taís, e uma das minhas grandes realizações é poder contribuir com a cadeia que produz alimento fresco para os brasileiros.BROTO: No contexto do protagonismo feminino no campo, quais foram os desafios que você enfrentou como mulher no setor pecuário e como os superou?Diana Jank: Reconheço o grande privilégio de ter nascido em uma família bastante esclarecida. Eu e minha irmã recebemos uma educação pautada em empoderamento e sempre tivemos autonomia, espaço e respeito na nossa gestão. Obviamente já vivi e presenciei cenas de machismo com parceiros, fornecedores, entre colaboradores e por aí vai. O que mais me incomoda é o machismo velado e o Gaslighting. Com certeza essa segurança que trago “de casa” me permitiu ser uma mulher com bastante facilidade para me posicionar e me expressar. Algo que sempre tento fazer em situações que entendo serem inadmissíveis - seja comigo ou na minha presença.BROTO: Sabemos que a participação das mulheres no agronegócio está crescendo. Como você enxerga esse aumento de presença feminina no setor pecuário e quais as oportunidades que isso pode gerar?Diana Jank: Acredito que elas sempre estiveram ali, a diferença é que agora estão sendo vistas e reconhecidas. Não apenas o agronegócio, mas o mundo só tende a ganhar com equidade de gênero. Cada vez temos pessoas mais capacitadas e preparadas para fazer parte do setor.BROTO: Em sua opinião, qual é a importância do protagonismo feminino no desenvolvimento sustentável do agronegócio?Diana Jank: O protagonismo feminino no Agronegócio é imprescindível. Estamos em 2024. Eu acho importante tomarmos cuidado com algumas questões que só reforçam as diferenças de gênero. Poderia listar inúmeras características “predominantemente femininas” que são essenciais para o desenvolvimento de qualquer negócio. Mas acho que a luta é sobre equidade no mercado, nos direitos e no respeito. A importância de alguém no setor deve se limitar à sua performance e não ao gênero. Muitas vezes o questionamento sobre a importância da mulher em uma determinada situação nos leva para o lugar da sempre presente necessidade de provar algo para poder pertencer a um lugar que já é natural para os homens.BROTO: Você percebe alguma mudança significativa nas perspectivas e oportunidades para as mulheres no agronegócio ao longo dos anos? Se sim, quais são essas mudanças?Diana Jank: Com certeza! Inclusive, sabemos que muitas mulheres em um passado recente precisaram de muita força e coragem para tantas outras ocuparem os lugares em que estão hoje. As empresas finalmente estão se adaptando para o óbvio: inclusão. Um setor mais inclusivo e com mais representatividade se torna mais acolhedor, mais respeitoso, mais atrativo e então mais competitivo pela gama de talentos e, consequentemente, mais potente. De um lado, temos empresas mais desenvolvidas e preparadas e, de outro, mulheres que se sentem mais seguras e confiantes de aplicarem para vagas que já foram predominantemente ocupadas por homens durante anos.BROTO: Como você incentiva outras mulheres a ingressarem no agronegócio, especialmente na pecuária? Quais conselhos daria a mulheres que estão considerando iniciar uma carreira nesse campo?Diana Jank: Eu sempre tento transbordar meus valores e no que acredito para a política da empresa da minha família e de qualquer outro que atravesse meu caminho profissional. Mais do que incentivar mulheres, nossa missão é tornar o setor mais justo. É essencial lembrarmos que para ambientes com mais representatividade, as lideranças (muitas vezes masculinas!) precisam agir diante de um cenário onde o homem sempre saiu na frente. Isso significa investir e agir nas políticas internas e externas da empresa. E para as mulheres: que não lhe faltem força e voz nunca. E que, com o passar dos anos, conquistar o básico se torne mais leve e natural.BROTO: Em sua experiência, quais são as principais habilidades e competências que as mulheres precisam desenvolver para se destacarem no agro?Diana Jank: A que a vaga estiver requisitando. Pensar na necessidade em desenvolver alguma habilidade extra simplesmente por conta de gênero é cair novamente no lugar de provação. Fica a reflexão: Por que mulheres sempre precisam provar mais pontos do que os homens para ocuparem os mesmos espaços?BROTO: O empoderamento feminino no campo também envolve o acesso a recursos e capacitação. Você poderia compartilhar iniciativas ou projetos que têm contribuído para fortalecer a presença das mulheres no agronegócio pecuário?Diana Jank: Vagas afirmativas, capacitação de mulheres e discursos pró-feministas das lideranças que transbordam para a política da empresa devem fazer parte de qualquer gestão. São iniciativas relativamente simples e com impacto enorme. Fomos pioneiros no setor ao contratar o serviço da Safe Space. Trata-se de um canal de escuta externo ao corpo da empresa, totalmente profissionalizado e capacitado para ouvir de forma isenta e confidencial qualquer queixa, desconforto, crítica e afins. Dentre muitos pontos positivos para um ambiente de trabalho com respeito, acreditamos que, especialmente para a mulheres, a plataforma traz mais segurança e conforto para o dia a dia.Através da marca, também contribuímos com diversos projetos. Faz parte do que a gente acredita, incentivar iniciativas nessa linha! Um deles é um apoio para mulheres em situações de vulnerabilidade que aprendem a trabalhar como baristas profissionais para conseguirem entrar no mercado de trabalho. Muitas vezes são mães solo e totalmente dependentes do próprio sustento.
Compartilhar