01/12/2023 às 16:33

ESPECIAL: Podridão das vagens de soja traz alerta aos produtores brasileiros

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A podridão das vagens de soja é uma doença que tem preocupado os sojicultores brasileiros, já que pode ser responsável pela redução da produtividade em lavouras com alto potencial produtivo. Até o momento, a ocorrência desta anomalia está localizada nos municípios da região Médio Norte do Mato Grosso, estado que responde por cerca de 30% da produção da oleaginosa no País.

Ano passado, a Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso (Fundação MT) identificou que cerca de 2,5 milhões de hectares de soja apresentaram podridão das vagens. Os especialistas da Fundação MT receberam relatos de produtores indicando que a doença pode levar a perdas de até 40% na quantidade de grãos avariados

Em 2022, a produtividade da soja no MT foi de 3,628 mil quilos por hectare. Em Goiás, chegou a 3,929 mil kg/ha, 8,3% a mais do que o principal produtor nacional.

Para este ano, a produtividade do MT está estimada em 3,760 mil kg/ha, contra 3,895 mil kg/ha em Goiás – os estados possuem características climáticas semelhantes, o que sugere que a diferença na produtividade possa estar atrelada a outros fatores.



O problema é relativamente novo, com surgimento na safra 2021/22. Mas, em visitas realizadas às lavouras da região, os pesquisadores já perceberam que há diferenças entre as cultivares quanto à intensidade de apodrecimento de grãos e vagens.

Pesquisadores da Embrapa Agrossilvipastoril, em parceria com outras entidades do setor agropecuário, acreditam que a podridão das vagens pode estar ligada a uma combinação de fatores, incluindo a época de semeadura. Até o momento, os resultados indicam que cultivares com maior resistência à podridão de grãos e uso de fungicidas são opções de manejo para reduzir as perdas de produtividade.

“Suspeitamos de alguns fungos, porém, ainda não conseguimos fechar o Postulado de Koch – sequência de procedimentos utilizados para estabelecer a relação causal entre um microrganismo e uma doença. Verificamos que esses fungos são patogênicos, contudo, quando inoculamos eles nas plantas, não há reprodução dos sintomas. Logo, não batemos o martelo para a causa do apodrecimento de vagens”, diz Dulândula Wruck, líder da pesquisa conduzida pela estatal.

Os sintomas descritos inicialmente como anomalia correspondem principalmente à podridão dos grãos e das vagens. Diversas amostras foram coletadas nas quais foram encontradas, nas vagens, grãos e hastes, um complexo de fungos de diferentes espécies de Fusarium, Diaporthe e Colletotrichum. Em algumas safras, também observaram alta incidência de mancha-púrpura nos grãos, causada por Cercospora spp. “Esses fungos podem ser encontrados de forma latente na planta e nos grãos, (fungos endofíticos), sem causar sintomas aparentes: cada um associado a uma doença quando ocorrem os sintomas. Eles foram identificados mesmo em vagens e grãos sem sintomas”, diz a pesquisadora da Embrapa Cláudia Godoy.



A Embrapa ressaltou que "muitas lavouras com apodrecimento de grãos e vagens são expostas a aplicações regulares de fungicidas e apresentam boa sanidade foliar. O apodrecimento pode ocorrer em toda a planta, mas com maior intensidade nos terços médio e inferior e se inicia na fase final de enchimento dos grãos, próximo à maturação fisiológica".

Mesmo sendo uma anomalia difícil de controlar, Dulândula destaca que o produtor pode utilizar fungicidas e adotar práticas de manejo que reduzam a incidência da doença. “Como ainda não sabemos a causa, o manejo de fungicidas é uma saída. É mais robusto [...] utilizando o específico e os protetores é o mais indicado. Só que não podemos esquecer das doenças que ocorrem normalmente na cultura, como ferrugem e mancha-alvo”, avalia.

A pesquisadora também explica que estão sendo estudadas técnicas de inoculação, uma vez que alguns isolados matam a planta dias após inoculação quando se utiliza a técnica do palito.  “Até agora com as informações que temos, é possível que outros fatores estejam envolvidos na manifestação dos sintomas, por isso que os projetos em andamento são multidisciplinares, analisando dados como clima, fertilidade e física do solo, teor de lignina, etc.

Praticamente todas as empresas de pesquisa localizadas no eixo da BR-163 no médio-norte do Mato Grosso estão estudando o problema. “Os resultados da rede de fungicidas e de cultivares da safra 2022/23 são uma fonte de informação para o produtor, para auxiliar no manejo do problema”, afirma a pesquisadora

De forma multidisciplinar e conjunta, o setor de grãos do Brasil tem trabalhado para desenvolver novas técnicas de controle da podridão das vagens de soja. Além disso, estão sendo desenvolvidas ações que possam informar o produtor sobre a doença.
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