O último relatório da Organização das Cooperativas do Brasil (OCB), divulgado em 2023, indica que o País abriga aproximadamente 4,7 mil cooperativas, distribuídas em sete ramos essenciais (Agropecuário, Consumo, Crédito, Infraestrutura, Saúde, Trabalho, Produção de Bens e Serviços e Transporte), sendo fundamentais para o desenvolvimento socioeconômico dos locais em que atuam.

Cada vez mais crucial no cotidiano do ambiente corporativo, a agenda ESG (Ambiental, Social e de Governança, em inglês) tem provocado uma série de transformações nessas organizações, que abrigam pequenos, médios e grandes produtores.

É nesse contexto que a Cocamar Cooperativa Agroindustrial busca ser reconhecida. Em conversa com o Broto, Natália Cavalini Paganini, gerente de Responsabilidade Socioambiental da cooperativa, compartilha as ações que têm sido implementadas no âmbito ESG e destaca os principais desafios para consolidar uma agenda mais eficaz no País.

BROTO: Quais ações a cooperativa têm desenvolvido no âmbito do ESG? É possível detalhá-las levando em consideração os princípios de meio-ambiente, social e governança?

COCAMAR: São muitas ações que são desenvolvidas na cooperativa, projetos e programas que existem há anos, que, inicialmente, não traziam consigo a nomenclatura ESG, mas que sempre existiram. Existem também coisas novas que foram criadas desde que essa temática ganhou destaque.

Como principal ação no âmbito ESG podemos destacar que a cooperativa participa do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU) desde 2020, e a adesão se deu após apresentarmos um amplo relatório que demostrava mais de 40 medidas e projetos de contribuição aos compromissos da agenda 2030 direcionados pelos 17 Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Um programa lindo e que nos enche de orgulho no âmbito ESG é o Cultivar. Essa ação existe há 17 anos, onde colaboradores com deficiências intelectuais e múltiplas, inseridos no mercado de trabalho, produzem mudas de espécies nativas da Mata Atlântica que são doadas a cooperados, colaboradores e órgãos públicos para o plantio em áreas de reflorestamento.

Além disso, em junho do ano passado, a cooperativa lançou seu primeiro relatório de sustentabilidade no padrão GRI, onde foram divulgadas inúmeras ações.

BROTO: Em termos financeiros, qual o montante investido nessas ações até o momento?

COCAMAR: Em 2023, somente na área de Responsabilidade Socioambiental, o investimento chegará a R$ 5.400.000,00, mas existem outros investimentos que estão sendo desenvolvidos em outras áreas, como nas indústrias.

BROTO: Quais são os principais desafios no estabelecimento da agenda ESG, sobretudo aqui no Brasil?

COCAMAR: Sem dúvida o principal desafio está em comprovar ganhos. Muitos indicadores são difíceis de monitorar e, consequentemente, reportar, às vezes demoram longos períodos para serem de fato contabilizados. Quando não é possível medir se torna difícil comprovar os benefícios de adoção das práticas.

Outro ponto é a questão de incentivos financeiros por parte do governo brasileiro. Quando se fala de benefícios para aqueles que aderem essa temática, as legislações ainda são muito iniciais, burocráticas, e não é claro o que deve ser feito para ter acesso às vantagens oferecidas.

BROTO: Em uma visão mais competitiva, de que forma a adoção de princípios pautados na sustentabilidade diferencia a cooperativa de outras?

COCAMAR: Os princípios cooperativistas por si só norteiam práticas ESG, as pautas de sustentabilidade são a essência das cooperativas, como a instauração de processos de governança e gestão, regime democrático, representatividade, formação e desenvolvimento, transparência, honestidade, solidariedade, responsabilidade socioambiental e muito mais.

BROTO: Na sua perspectiva, o que falta para uma execução mais plena da agenda ESG no setor cooperativista?

COCAMAR: Aumento de incentivos, sejam eles financeiros, de reconhecimento e afins.