20/03/2024 às 17:06
ESPECIAL: São necessárias “iniciativas de protagonismo” para destacar o papel da mulher no agro, avalia Alessandra Barth, produtora rural
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O cenário agrícola brasileiro está passando por uma transformação significativa, e as mulheres estão desempenhando um papel crucial nesse processo. Alessandra Barth, produtora rural em Ipiranga (PR) e finalista do Prêmio Mulheres do Agro em 2023, é a nossa entrevistada desta semana. Confira:BROTO: Qual é a principal conquista que você destaca em sua trajetória no agronegócio e como essa experiência impactou sua visão sobre o papel das mulheres no setor? Alessandra Barth: A maior conquista, que não é minha, mas de uma geração inteira de mulheres, é a abertura para participação feminina e o incentivo que estamos vivenciando nos últimos anos. Hoje, vemos vários movimentos de valorização acontecendo dentro das diversas entidades ligadas ao agronegócio, dentre as quais destaco a FAEP (Federação da Agricultura do Paraná), uma grande precursora no País que se propôs a colocar as produtoras rurais em evidência, juntamente com os sindicatos rurais e suas comissões de mulheres.Os movimentos de mulheres têm ganhado força também dentro das cooperativas, com o movimento mulheres cooperativistas, entre outros. Além disso, muitas empresas ligadas ao agronegócio têm desenvolvido produtos e projetos específicos para o público feminino. Tudo isso fortalece e encoraja as produtoras rurais, principalmente as pequenas produtoras, como é o meu caso.Quando decidi deixar minha antiga carreira profissional e retornar à propriedade dos meus pais, encontrei muito apoio no sindicato rural, fui convidada a participar da comissão local de mulheres e, com isso, pude participar de vários eventos –essas experiências proporcionaram e ainda proporcionam o contato com muitas outras empreendedoras rurais.BROTO: Como as mulheres do agronegócio podem inspirar e incentivar a próxima geração a se envolver e prosperar neste setor? Alessandra Barth: Na minha opinião, isso será um processo natural. Haverá um tempo em que não se discutirá mais gênero – as pessoas já estão se acostumando com essa ideia. Boa parte desta naturalidade vai depender de como estamos educando as novas gerações [...] Precisamos de pessoas que saibam de onde as coisas vêm e de como produzir é difícil, demanda tempo, riscos, conhecimento e uma dose de sorte, que produzir alimentos é uma missão divina.BROTO: Na sua experiência, de que forma a inclusão de mais mulheres nas atividades do agronegócio contribui para a inovação e o desenvolvimento sustentável?Alessandra Barth: Percebo que as mulheres são mais atentas à inovação e percebo que a maior parte das propriedades preocupadas com iniciativas da sustentabilidade também são geridas por mulheres.BROTO: Quais são as características e habilidades que você considera essenciais para as mulheres que desejam se destacar e crescer profissionalmente no agronegócio? Alessandra Barth: A consciência de que não fazemos nada sozinhas, precisamos de uma equipe, seja ela família ou funcionários; mente ávida por conhecimento; abertura para parcerias; ferramentas de gestão; multitarefas; coragem; resiliência; persistência; não ter medo de acordar cedo; trabalho duro; dedicação; a consciência de que todos somos capazes, basta uma dose de cada uma das características acima.BROTO: Como as comemorações do Dia da Mulher podem ser uma oportunidade para destacar as realizações das mulheres no agronegócio e sensibilizar a sociedade sobre a importância de sua participação no setor?Alessandra Barth: Acho que é um dia para lembrarmos de todas as conquistas realizadas até aqui, além de uma boa oportunidade para mostrar e para reavivar a importância das mulheres do agro. Oportunidade de trazer as produtoras na imprensa para que pessoas de outros setores tenham conhecimento de como o agro tem valorizado e criado oportunidades para as mulheres.BROTO: Na sua visão, quais iniciativas ou políticas poderiam ser implementadas para promover um ambiente mais inclusivo e igualitário para as mulheres no agronegócio brasileiro?Alessandra Barth: O agro tem se mostrado muito inclusivo, uma vez que as mulheres conseguiram assumir esse protagonismo. Não acho que isso demande de políticas públicas, mas de iniciativas de protagonismo.Penso que a maior dificuldade residiu na questão da sucessão familiar, que em muitos casos entendia como natural a sucessão masculina na fazenda. Hoje, temos a oportunidade de educar nossos filhos de maneira diferente. Com a coragem desta geração, que hoje assumiu esse papel, deixamos abertas as porteiras para as próximas gerações de mulheres que terão menos dificuldades nessas questões, pois está se consolidando com naturalidade o papel da mulher gestora das propriedades.BROTO: Como é a sua rotina de produtora rural?Alessandra Barth: Minha rotina é muito intensa. Começo o dia às 5 da manhã participando da primeira ordenha. Depois, seguimos com os compromissos do dia relacionados ao manejo, como protocolos de reprodução, medicações, controle de peso dos animais, desmames, identificações, rotinas dos funcionários, supervisão da alimentação e limpeza etc – faz parte da rotina o estabelecimento das estratégias a serem adotadas junto com os profissionais que nos atendem: veterinário, zootecnista e engenheiro agrônomo.Na parte da tarde me dedico mais às questões administrativas, como pedidos de ração e insumos, organização financeira, compras de sêmen, negociação com fornecedores, orçamentos, atualizações de softwares zootécnicos e de gestão, entre outros. No entremeio a essas atividades ainda sou mãe e dona de casa, tenho 3 filhos, com 14, 8 e 1,7 anos de idade, o que demanda algumas rotinas, como tarefas escolares, aula de violão e alimentação.
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