29/11/2024 às 17:02
ESPECIAL: “Seguro rural é a ferramenta mais potente para proteção das perdas financeiras por quebras de safra e produção”, afirma Paulo Hora, Superintendente da Brasilseg
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A agropecuária brasileira enfrenta perdas anuais significativas devido às catástrofes climáticas, com destaque para a seca, que responde por cerca de 87% dos prejuízos. De acordo com levantamento da Confederação Nacional de Municípios, o Brasil perdeu R$ 287 bilhões entre 2013 e 2022, o que revela a alta vulnerabilidade do setor. Em resposta a essas adversidades, o seguro rural emerge como uma solução essencial, não apenas como uma proteção financeira contra perdas de safra, mas também como uma ferramenta de adaptação e mitigação dos riscos climáticos.Em entrevista exclusiva ao Broto, Paulo Hora, Superintendente Executivo de Negócios e Soluções Rurais da Brasilseg, comenta que o grande desafio é a consolidação de uma cultura de proteção no campo, superando a resistência histórica dos produtores e expandindo a cobertura de seguros para além das grandes culturas, como soja e milho, com um foco maior nos pequenos e médios produtores.Segundo Hora, com a evolução das tecnologias, como o uso de sensoriamento remoto e plataformas digitais, o mercado de seguros está cada vez mais próximo de oferecer soluções personalizadas e mais acessíveis, especialmente com a inovação das modalidades paramétricas, que oferecem indenizações baseadas em indicadores climáticos predefinidos.Contudo, desafios estruturais, como a falta de dados confiáveis em algumas regiões e a necessidade de mais capilaridade, ainda precisam ser superados para garantir uma expansão efetiva.As perspectivas para o futuro incluem a massificação do seguro rural, a criação de produtos mais customizados e a incorporação de serviços agregados que melhorem a gestão de risco nas propriedades, buscando tornar o seguro mais inclusivo e acessível a todos os perfis de produtores brasileiros.Confira a entrevista completa: Broto: É possível o agronegócio mitigar as perdas causadas por catástrofes climáticas? Se sim, como?Paulo Hora: Existem várias estratégias para prevenir e ou reduzir os impactos do clima na agricultura. Parte dessas estratégias passam por ações de mitigação e adaptação, onde o principal foco é técnico, ou seja, ações que se referem a boas práticas agrícolas, como manejos mais sustentáveis, adoção de tecnologias que tragam mais resiliência as culturas, manejo de solo, técnicas de manutenção de cobertura vegetal sistematicamente nas áreas, rotação de culturas, integração de sistemas mutualmente complementares, entre outros, que também direcionam a gestão das áreas produtivas para uma agricultura regenerativa.Além disso, do ponto de vista mais macro, estratégias de transferência de risco são fundamentais para tornar o setor produtivo e demais elos da cadeia mais resilientes financeiramente, estabilizando caixa e permitindo contínuo fluxo de investimento e produtividade. Nessa estratégia de transferência de risco, o seguro rural é a ferramenta mais potente para proteção das perdas financeiras por quebras de safra e produção, que em conjunto com as estratégias de hedge de preço, minimizam as consequências dos principais riscos do setor. Broto: Como o mercado de seguros rurais busca se adaptar diante das variações climáticas extremas que vem sendo observadas com cada vez mais frequência?Paulo Hora: Tanto o mercado de seguros rurais quanto de resseguros, tem investido muito em modelagem e ferramentas que permitam capturar dados dos riscos segurados e traduzi-los em indicadores de precificação, limites de coberturas, perdas máximas prováveis, prognósticos e tendências, entre outras informações importantes para gerir melhor as carteiras e os capitais alocados para esses riscos.Hoje a operação da Brasilseg tem 100% das suas áreas agrícolas seguradas integradas com ferramenta de sensoriamento remoto, com imagens de alta resolução espacial e frequência de passagem para uma melhor gestão geoespacial dos seus riscos com a criação de layers de informações dos talhões das fazendas. Há desafios para uma subscrição mais refinada e personalizada a partir desses dados, desenho de produtos customizados e estratégias de proteção para a carteira da seguradora. Hoje, a principal ferramenta para essa proteção são os contratos de resseguro, onde a seguradora transfere parte do risco para empresas resseguradoras globais. Broto: Qual o maior empecilho do crescimento dos seguros rurais no Brasil?Paulo Hora: Alguns aspectos estão estruturalmente ligados ao desafio de crescimento desse segmento no Brasil. O primeiro deles é cultural, em que é preciso trabalhar a cultura de proteção no campo. Historicamente, o produtor está acostumado a tomar risco, e mesmo alavancado não busca proteções para seu patrimônio e sua produção, com o falso entendimento que essa proteção é mais um custo.O segundo grande empecilho é avançar com a consolidação do programa de seguro rural no formato público-privado. Há exemplos do que fizeram outros países com agricultura forte e que viram no seguro rural instrumento central de política agrícola. Nesse aspecto, recursos para subvenção ao prêmio do seguro tornando o acesso mais barato ao produtor, o que fomenta.É importante também instrumentos de proteção a quem oferta os seguros e toma o risco. Nesse aspecto, fundos de catástrofe e resseguro são também pilares fundamentais nessa construção. Além disso, formação de profissionais, integração de base de dados de variáveis importantes para análise de risco, capacitação de canais de distribuição e padronização de procedimentos completam temas importantes para o avanço constante do seguro rural no Brasil. Em breve, a parte 2 da entrevista.
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