27/03/2024 às 17:40
Especial: “Ser selecionada como líder e, em seguida, liderar em um ambiente onde a maioria é masculina continua sendo um desafio significativo”, destaca Tatiana Fiuza, head de inovação do hub Cocriagro
Compartilhar
Em entrevista para o Broto, Tatiana Fiuza, head de inovação do hub Cocriagro, discute o crescente protagonismo feminino no agronegócio e os desafios enfrentados pelas mulheres que buscam liderança. Além disso, ela compartilha insights sobre iniciativas para promover a participação feminina e aborda a questão do machismo e suas implicações na dinâmica de trabalho.BROTO: Como você enxerga o papel das mulheres no setor do agronegócio brasileiro, especialmente no contexto da inovação e das agtechs?Tatiana Fiuza: Nos últimos anos, tem sido observado um significativo crescimento da presença feminina em diversas iniciativas de inovação relacionadas ao agronegócio. Embora ainda haja a necessidade de incentivar essa ação, temos notado um aumento nesse sentido. É cada vez mais comum encontrar mulheres liderando startups como sócias, e não apenas como participantes.Além disso, nas empresas e corporações, também temos visto mulheres assumindo cargos de liderança em áreas de inovação. Portanto, acredito que tanto a agenda quanto a participação feminina têm aumentado significativamente nesse contexto de inovação e agtechs.BROTO: Quais são os principais desafios enfrentados pelas mulheres que buscam se destacar e liderar em ambientes tradicionalmente dominados por homens, como o agronegócio?Tatiana Fiuza: Quando a gente fala em desafio, ainda é relacionado a essa estrutura em que uma mulher precisa passar muito tempo explicando de onde ela veio, quem ela é, para dizer que ela tem conhecimento em determinado assunto.Inclusive, nesta semana, eu estava num painel falando sobre meninas e mulheres na ciência com duas outras colegas, ambas da área do agronegócio também, uma de uma multinacional e a outra de uma cooperativa, e elas são líderes, eram gestoras, e mais ou menos a participação das mulheres ali no setor delas está ligada a 25%.Embora estejamos observando uma maior abertura para mulheres assumirem cargos de liderança, ainda enfrentamos o desafio de liderar em áreas predominantemente masculinas. Ser selecionada como líder e, em seguida, liderar em um ambiente onde a maioria é masculina continua sendo um desafio significativo.BROTO: Você poderia compartilhar exemplos de iniciativas ou programas específicos que visam promover a participação e a liderança feminina no campo da inovação agrícola?Tatiana Fiuza: Sim, temos tido em grandes eventos, por exemplo, aqui em Londrina com o Agrobitt, um painel com mulheres; a própria CNA tem um movimento ligado à questão das mulheres no agro; no Paraná, temos o evento nacional de mulheres no setor.Hoje, por meio de eventos e associações e representações institucionais, políticas, esses grupos têm se organizado de uma maneira muito mais dinâmica para que a gente consiga trazer conteúdo, tanto para produtoras quanto para participantes do agro, enfim, para que a gente consiga fazer isso de uma maneira muito mais integrada – é um momento muito oportuno, em que o assunto tem aparecido, tem tido interesse da mídia.BROTO: Como o machismo impacta a dinâmica de trabalho e o desenvolvimento de soluções inovadoras dentro do agronegócio e nas agtechs? Existem estratégias para combater esse problema?Tatiana Fiuza: É curioso como falamos sobre o impacto do machismo em nosso cotidiano, em situações que ocorrem diariamente com qualquer uma de nós, mas ao mesmo tempo parece que não podemos abordar o assunto abertamente – o machismo afeta porque muitas vezes perdemos oportunidades ou nosso trabalho poderia ter sido realizado de maneira diferente.No contexto das agtechs e do agronegócio, o machismo, embora muitas vezes sutil, está fortemente relacionado à questão dos investimentos quando mulheres lideram negócios. No entanto, não tenho conhecimento de uma estratégia coordenada para combater isso – uma iniciativa que conheço foi da Associação Brasileira de Startups (Abstartups). No ano passado, a entidade lançou uma campanha contra o assédio, mas desconheço iniciativas específicas para o setor de agtechs.De qualquer forma, considerando que o machismo é estrutural, precisamos aprender a comunicar isso de forma que não seja interpretado como apenas uma tentativa de polemizar por parte de um grupo.BROTO: Quais são as tendências recentes que você observa no cenário das agtechs brasileiras, e como as mulheres estão contribuindo para impulsionar essa inovação?Tatiana Fiuza: Tenho percebido cada vez mais o número de mulheres à frente de startups ligadas ao agro, em diferentes frentes, seja biotecnologia, sejam startups que estão lidando com monitoramento de lavouras num aspecto bem amplo.Então, a gente tem visto cada vez mais mulheres com esse desejo de empreender e criando soluções para o agronegócio.Elas têm posicionado soluções extremamente inovadoras com viés sustentável, o que é muito interessante porque daí traz a esse produtor ou essa empresa ou essa cooperativa que atua no agronegócio um olhar mais dinâmico de atuação.BROTO: Como o seu hub de inovação está promovendo a diversidade de gênero e incentivando a participação das mulheres tanto na criação quanto na adoção de tecnologias inovadoras no setor agrícola?Tatiana Fiuza: Não tenho certeza se existem muitas, mas aqui no meu Hub, sou uma das sócias, o que me torna uma das poucas mulheres a ter participação em ambientes de inovação ligados ao agronegócio no Brasil. Não posso afirmar se sou a única, mas posso dizer que sou uma das raras. Temos nos dedicado intensamente à promoção do empreendedorismo feminino e ao apoio às empreendedoras na busca por conexões comerciais e oportunidades de captação de recursos sempre que possível.No ano passado, realizamos um programa de capacitação com um grupo de mulheres para prepará-las para atuar como consultoras, auxiliando outras startups na captação de recursos para a inovação. Portanto, este ano, trabalhamos no fortalecimento das startups lideradas por mulheres, oferecendo tanto cursos de capacitação específicos quanto no planejamento de eventos para produtoras, com o objetivo de conectar mulheres produtoras a startups.
Compartilhar