22/01/2025 às 17:48
ESPECIAL: Sustentabilidade nas empresas familiares do agronegócio passa por planejamento sucessório bem planejado, afirmam especialistas
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A longevidade das empresas familiares no agronegócio vai além de investimentos em tecnologia, diversificação de culturas e acesso a crédito. Um fator essencial para a sustentabilidade desses negócios é o planejamento sucessório, que garante a continuidade da gestão e a preservação do legado empresarial. No Brasil, onde o agronegócio desempenha um papel estratégico na economia, esse aspecto ainda recebe menos atenção do que deveria, colocando em risco a perenidade de muitas empresas.Para Arnaldo Rebello, consultor sênior da GoNext, a sucessão em empresas familiares do agronegócio, quando bem planejada, assegura a longevidade dos negócios. No entanto, se negligenciada ou adiada, pode se tornar um desafio que compromete o futuro da organização. "A sucessão não deve ser vista apenas como uma troca de liderança, mas como uma oportunidade de fortalecer a empresa. Um planejamento sucessório bem estruturado permite que as organizações se adaptem às novas demandas, ampliando sua capacidade de inovação sem perder suas raízes", pondera.Em países desenvolvidos, a sucessão em empresas familiares é tratada de forma estratégica, com uma visão de longo prazo que combina inovação e tradição. No Japão, muitas empresas do setor implementam planos sucessórios detalhados, com a participação ativa da próxima geração. A cultura japonesa valoriza a continuidade, preservando o legado enquanto adota práticas modernas. As Keiretsu, conglomerados familiares japoneses, são um exemplo de planejamento sucessório bem-sucedido, equilibrando tradição e inovação para garantir a estabilidade e a perpetuação dos negócios agrícolas por gerações.Nos Estados Unidos e na Nova Zelândia, o planejamento sucessório no agronegócio é estruturado para garantir continuidade e adaptação às transformações. Nos EUA, conselhos consultivos e comitês desempenham um papel essencial, integrando a nova geração de forma planejada e preparando-a para lidar com inovações. Na Nova Zelândia, o foco está na sustentabilidade e competitividade, com uma visão estratégica de longo prazo que assegura a adaptação às novas diretrizes globais. Em ambos os casos, a combinação de governança sólida e práticas inovadoras é crucial para manter a competitividade em um ambiente dinâmico.No Brasil, as empresas familiares do agronegócio ainda enfrentam desafios. Apesar do reconhecimento da importância do planejamento sucessório, a implementação de processos estruturados é limitada. Dados da KPMG mostram que 55% das empresas familiares brasileiras não possuem um planejamento sucessório formal, o que compromete a continuidade dos negócios e afeta a segurança e a estabilidade das comunidades que deles dependem. "A ausência desse planejamento resulta em conflitos familiares, falta de inovação e dificuldades de adaptação", destaca Rebello.O consultor explica que, para garantir uma transição geracional e de gestão bem-sucedida, as empresas familiares do agronegócio precisam adotar abordagens mais estruturadas, que integrem governança, gestão e inovação. "Transformar o planejamento sucessório em um processo contínuo, que respeite o legado e se prepare para as mudanças, é a chave para o sucesso", afirma.O uso de ferramentas de governança corporativa, como conselhos consultivos e comitês de sucessão, aumenta a transparência e assegura a continuidade dos negócios. Com essas práticas, as empresas não só preservam seu legado, mas também se posicionam para enfrentar desafios e aproveitar oportunidades, seguindo o exemplo de mercados mais desenvolvidos."O planejamento sucessório é essencial para a longevidade das empresas familiares no agronegócio. Quando bem estruturado, permite uma transição suave entre gerações, reduz conflitos e fortalece a governança. A falta desse planejamento pode comprometer não apenas a continuidade do negócio, mas também o impacto econômico e social dessas empresas em suas comunidades", conclui o executivo.Segundo o advogado e conselheiro de empresas Marcus Coelho, a falta de planejamento sucessório adequado, com transição de liderança segura e clara do fundador, pode ser prejudicial para a perpetuidade das empresas. Sem dúvidas, o planejamento sucessório é essencial para garantir que os herdeiros estejam aptos a dar continuidade ao legado do fundador. Isso envolve avaliar a capacidade de gestão dos herdeiros, sua vontade de liderar a gestão do patrimônio empresarial e familiar.Uma boa sugestão para as empresas familiares é de que, em paralelo a todas as medidas sucessórias, preparem seus herdeiros na arte de negociar. Ela irá auxiliar nos relacionamentos interpessoais, especialmente no momento delicado da troca de comando. Coelho enfatiza que “A negociação é uma exigência essencial que se encontra presente em todos os aspectos da vida, desde o ambiente profissional até as relações pessoais. Quem não sabe negociar vai enfrentar dificuldades com certeza. Quando tratamos de sucessão empresarial, isso torna-se ainda mais importante”, afirma.Coelho lista os sete principais pontos de atenção que podem transformar qualquer cenário e trazer bons resultados para todos os envolvidos em um caso de sucessão familiar. Confira:
- Compreenda a história e os valores da empresa. Antes de assumir qualquer papel, é crucial entender a história da empresa e os valores que a sustentam. “Isso ajuda a alinhar suas ações com a cultura organizacional e a respeitar o legado familiar”, explica Coelho.
- Desenvolva habilidades de comunicação, que são fundamentais em qualquer relação, ainda mais em empresas familiares. Pratique a escuta ativa e a comunicação clara para evitar mal-entendidos e resolver conflitos de forma construtiva.
- Estabeleça limites claros entre trabalho e convivência familiar. “Diferencie os papéis familiares dos papéis profissionais. Isso significa tratar questões de negócios no ambiente de trabalho e questões familiares em casa, evitando que uma interfira na outra”, destaca o especialista.
- Busque formação e desenvolvimento pessoal. Invista em sua educação e desenvolvimento profissional. Educação não apenas aumenta a competência, mas também demonstra o compromisso com o sucesso da empresa.
- Respeite as diferenças. Cada membro da família pode ter uma abordagem ou perspectiva diferente. “Respeite essas diferenças e veja-as como uma oportunidade para enriquecer a gestão da empresa”, diz Coelho.
- Considere consultoria externa. Trazer um consultor externo, por exemplo, pode ajudar a mediar conflitos e oferecer uma perspectiva imparcial sobre questões difíceis.
- Cultive a paciência e a empatia: lembre-se de que as relações familiares podem ser emocionais. “Cultive a paciência e a empatia para lidar com situações delicadas de maneira sensível. Aprender técnicas de negociação e utilizá-las pode ser uma ferramenta imprescindível”, completa o especialista.
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