29/09/2023 às 09:20
Estudo da Embrapa e parceiros aponta alternativas para o desenvolvimento da caprinocultura leiteira no Nordeste
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Pesquisa coordenada pela Embrapa, em parceria com as universidades Nacional Autónoma do México (Unam) e Estadual Paulista (Unesp), traçou um panorama sobre a caprinocultura leiteira na divisa entre os estados de Paraíba e Pernambuco, região de maior produção do Brasil.Os dois estados, juntos, respondem por 50% da produção de leite de cabra do Nordeste e 35% dos cerca de 26 milhões de litros da produção brasileira. O intuito dos pesquisadores foi compreender melhor a realidade e avançar em soluções sustentáveis para os principais desafios dos sistemas produtivos locais.Com base nos dados levantados junto a 334 propriedades rurais na Paraíba e 220 propriedades em Pernambuco, a pesquisa evidencia uma realidade de dependência de programas públicos para comercialização do leite caprino e seus derivados, assim como fragilidades na segurança alimentar dos rebanhos, alta taxa de lotação – concentração de animais em uma mesma área de pastagem – e necessidade de alimentos externos para composição das rações.A pesquisa aponta também possíveis soluções, como a adoção de tecnologia, mudanças de manejo (especialmente de pastejo e melhoramento animal), além da busca por novos canais de comercialização da produção.De acordo com a pesquisadora Nívea Felisberto, da Embrapa Caprinos e Ovinos, a busca pelo diagnóstico da realidade da caprinocultura leiteira na região da divisa, que compreende territórios do Cariri (PB), Sertões de Moxotó/Pajeú (PE) e Agreste Central/Meridional (PE), foi motivada pela necessidade de encontrar soluções para problemas como baixa adoção de tecnologias e baixo índice de continuidade de ações de projetos na região, principalmente junto ao público da agricultura familiar.“Assim, entender o perfil produtivo, econômico, ambiental e social dessas famílias nos pareceu fundamental para entrarmos no agroecossistema, conhecermos sua estrutura e funcionamento e contribuirmos na busca e/ou construção coletiva de soluções”, ressalta Nívea.Quase todo o leite caprino produzido no Nordeste, segundo os autores, é adquirido pelo programa de aquisição de alimentos do governo federal Alimenta Brasil, que substituiu o antigo Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). A garantia desse mercado, inclusive, alavancou a atividade, fazendo com que várias propriedades passassem a explorar a caprinocultura leiteira como principal atividade comercial na Paraíba e em Pernambuco a partir de 2000. No entanto, os pesquisadores ressaltam que um mercado restrito à venda para políticas públicas acaba limitando a produção de leite de cabra.Para o zootecnista Cláudio Inojosa Júnior, integrante da Cooperativa de Beneficiamento de Leite em Lage do Carrapicho (Coobelac), em Alagoinha, no Agreste pernambucano, as políticas de aquisição de alimentos incrementaram a produção de leite caprino na região, mas é preciso superar entraves para favorecer a comercialização de produtos, como queijos, doces e outros derivados. “Devemos buscar medidas de escoamento dessa produção; a caprinocultura aqui em nossa região precisa dar novos passos na comercialização”, avalia.Uma forma de impulsionar o aumento e a comercialização do leite caprino na região, apontam os autores do estudo, é incentivar a valorização dos recursos locais e a implantação de certificações, como a indicação de procedência, que considera modo de preparo e comercialização dos produtos tradicionais. Uma boa referência seria o arranjo adotado por pequenos produtores de queijos das serras de Minas Gerais (Canastra, Salitre e Serro) que, com apoio político-institucional de diversas organizações governamentais e não governamentais, conseguiu impulsionar as cadeias produtivas em âmbito local.Outro aspecto importante apontado pela pesquisa é a necessidade de financiamento para a atividade. O artigo frisa que os sistemas de produção de caprinocultura leiteira na região, compostos prioritariamente por pequenas propriedades rurais com base na agricultura familiar, têm tendência à multifuncionalidade, mas possuem baixo poder de investimento.De acordo com a pesquisa, uma alternativa é buscar linhas de investimento que considerem a diversidade de atividades produtivas praticadas nessas propriedades, o que pode ser foco de atenção, inclusive, de políticas públicas para o setor. “Financiar soluções importantes para o aumento da sustentabilidade das unidades, como, por exemplo, ampliar disponibilidade e diversidade forrageira, além de reduzir a necessidade de consumo de insumos externos mais expostos às oscilações de preço no mercado”, sugere Leandro Oliveira.
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