20/09/2024 às 14:31
Ferramentas para recuperação da vegetação são apresentadas no 1º Encontro da Regularização Ambiental
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O WebAmbiente e o AgroTag VEG, duas plataformas desenvolvidas pela Embrapa e parceiros para auxiliar na recomposição da vegetação na propriedade rural e na elaboração de projetos de recuperação de áreas degradadas ou alteradas (PRADA), foram apresentados na última quarta-feira (18) pelo pesquisador Felipe Ribeiro, da Embrapa Cerrados (DF), durante o 1º Encontro da Regularização Ambiental, promovido pelo Serviço Florestal Brasileiro (SFB) de 16 a 20 de setembro em Brasília.O encontro promove o intercâmbio de experiências, o fortalecimento de parcerias e o alinhamento de estratégias para o avanço da adequação ambiental das propriedades rurais em todo o Brasil, com a apresentação de panoramas e perspectivas sobre modelos de regularização ambiental e a discussão de temas como a recuperação da vegetação nativa, incentivos econômicos e legislação. Participam representantes de 24 estados, entre técnicos, especialistas e gestores dos órgãos estaduais responsáveis pela gestão do Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural (Sicar).Ribeiro participou do painel "Modelos de regularização ambiental e recuperação da vegetação nativa", moderado por Fabiola Zerbini, diretora de Florestas do Ministério do Meio Ambiente. Ela falou sobre o Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg), que busca ampliar e fortalecer políticas públicas, incentivos financeiros, mercados, boas práticas agropecuárias e outras medidas para a recuperação da vegetação nativa de pelo menos 12 milhões ha até 2030, e no momento está em processo de consulta pública para revisão.O pesquisador mostrou como as ferramentas de diagnóstico e planejamento do PRADA (WebAmbiente) e de monitoramento da restauração (AgroTag VEG) podem auxiliar nos Programas de Regularização Ambiental (PRA) dos estados brasileiros. Ele lembrou que a regularização ambiental começou a ser disciplinada em lei no Decreto nº 7029 de 10/12/2009, que instituía o Programa Federal de Apoio à Regularização Ambiental de Imóveis Rurais, denominado Programa Mais Ambiente. Ele destacou que, desde então, diversos atores como órgãos ambientais, instituições de pesquisa e agentes que transferem e implementam tecnologias têm se envolvido na questão da regularização ambiental, e destacou a importância da participação conjunta dos representantes dos produtores rurais."Para alguns produtores, a propriedade é Área de Uso Alternativo do solo (AUA) e assim eles podem fazer o que bem entenderem. Mas não é assim, existe uma Lei de Proteção da Vegetação Nativa (12.651/2012) que é decorrente de uma diretriz da Constituição que preconiza que a proteção ao meio ambiente e o interesse social sempre devem ser levados em conta na gestão da propriedade", explicou. "Mas como compatibilizar a produção com áreas de Proteção Permanente (APP), de Reserva Legal (ARL) e de Uso Restrito (AUR)? Não dá para fazer de conta que essas coisas não se conversam. Há passivos ambientais não só nas APPs e ARLs, mas também nas AUAs", completou, apontando a importância do uso de soluções tecnológicas tropicais como a produção em sistemas integrados.Esses sistemas desenvolvidos pela Embrapa e parceiros, segundo Ribeiro, proporcionam não apenas três safras de alimentos, fibras e bioenergia no mesmo ano, mas, se for usada a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, também possibilitam a quarta safra florestal e, ainda, uma quinta safra, correspondente aos serviços ecossistêmicos, que precisam ser valorados e valorizados por políticas públicas."Como vamos fazer para colocarmos os serviços ecossistêmicos como um produto concreto, para que o produtor entenda que, além das boas práticas agropecuárias, ele pode ser remunerado por fazer a gestão integrada da paisagem com os recursos naturais das APPs e ARLs?", questionou o pesquisador, acrescentando que devido à falta dessas políticas e do entendimento do produtor rural da importância desses serviços, em muitos casos estão sendo prestados, na verdade, desserviços ambientais como envenenamento por pesticidas, perda de ambientes e de nutrientes, erosão do solo, assoreamento, baixo sequestro de carbono e perda de biodiversidade.Melhorias no WebAmbienteAo falar sobre o processo de regularização ambiental, Ribeiro apontou que o elo mais fraco da cadeia está na retificação do CAR, o que impossibilita identificar se existem e onde estão os passivos ambientais. "Dessa maneira, fica difícil implementar as ações de diagnóstico, planejamento, implantação e monitoramento da restauração. Essa retificação deve ser trabalhada concretamente pelas instituições responsáveis pela análise da regularização ambiental nos estados e acordadas com os produtores", disse.Nesse sentido, ele falou sobre o WebAmbiente, sistema de informação interativo para auxiliar na tomada de decisão para adequação ambiental da paisagem rural, que serve como ferramenta de diagnóstico e planejamento, sendo, inclusive, considerada no Planaveg, assim como o AgroTag VEG. Ambas as ferramentas são apoiadas pela Secretaria de Biodiversidade, Florestas e Direitos Animais do Departamento de Florestas do Ministério do Meio Ambiente e têm passado por aprimoramentos para melhor atender às demandas de recomposição da vegetação, principalmente nos biomas Caatinga, Pampa, Pantanal e Cerrado.Entre as melhorias necessárias, o pesquisador destacou o aprimoramento do WebAmbiente no Módulo de Regularização Ambiental (MRA) do Sicar. As mudanças visam otimizar a simulação que o produtor pode realizar na plataforma ao elaborar projetos de recomposição de ARL e de APP em regiões de floresta, savana ou campo. Um dos ajustes propostos inclui a identificação mais precisa do nível de resiliência, ou seja, do potencial de regeneração natural do polígono que será restaurado.Ele explicou que estão sendo simplificados os indicadores de diagnóstico para avaliar o estágio de degradação que possam ser mensurados visualmente, como percentuais de cobertura de espécies nativas, de cobertura de capim exótico e de solo exposto. "Em vez do usuário informar a resiliência da área com base no seu entendimento empírico, ele vai indicar as porcentagens desses parâmetros e o sistema, baseado nos algoritmos mensurados nas Unidades de Aferimento desses indicadores do Projeto Paisagens Rurais, irá nos informar o nível de resiliência. Fica muito mais fácil e preciso", disse.Outra atualização no sistema é que, ao inserir informações sobre as condições ambientais e do solo na área a ser recomposta, o sistema agora sugere automaticamente soluções para o PRADA, além de oferecer recomendações de espécies de plantas adequadas para a recomposição e estratégias de plantio. "Nossa principal preocupação é auxiliar as propriedades rurais brasileiras com menos de quatro módulos fiscais (cerca de 90% das propriedades), oferecendo alternativas para a elaboração de um PRADA simplificado. Com base nessas sugestões, o sistema identifica as ações mais adequadas, considerando a relação custo-benefício, e já gera o projeto simplificado, pronto para uso", explicou.Ribeiro comentou, ainda, sobre a recém-criada Rede Restaurabio de Restauração de Ecossistemas, iniciativa liderada pela diretora de Negócios da Embrapa, Ana Euler. Composta por cerca de 130 especialistas da Empresa, a rede está elaborando uma síntese dos principais modelos de restauração, abordando tanto experiências de restauração ecológica quanto produtiva de ecossistemas. Entre os resultados, a rede disponibilizará 54 experiências com informações detalhadas sobre técnicas e custos de plantio, com destaque para a restauração produtiva com sistemas agroflorestais e agrocampestres. Todo esse material será reunido em um documento que será disponibilizado eletronicamente no WebAmbiente.Monitoramento com o AgroTag VEGApós o diagnóstico, o planejamento e a implantação do PRADA no campo, o monitoramento do sucesso no campo é etapa fundamental, porém complexa. Segundo o pesquisador, o AgroTag VEG, sistema desenvolvido pela Embrapa Meio Ambiente (SP) com apoio do Fundo Amazônia, é usado para qualificar o monitoramento de recomposição de APP, ARL e AUR.O sistema vai trabalhar com o compartilhamento de informações (imagens Google, Google Satélite e outras, bem como informações declaradas no CAR) e registros fotográficos (com latitude, longitude e azimute) por meio de redes colaborativas, de modo a gerar e disponibilizar para o produtor e para o técnico de campo os indicadores de recomposição e sugestões de manejo adaptativo, se necessário, bem como para os órgãos ambientais estaduais para conferência.O AgroTag VEG permitirá a localização em mapa dos pontos registrados, a consulta e o cruzamento de informações com outras bases de dados e a impressão de relatórios customizados por estado. Os testes serão realizados em conjunto com o Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (IDAF) e no Instituto Estadual de Florestas (IEF), de Minas Gerais.Ribeiro informou que a incorporação do WebAmbiente e do AgroTag VEG ao Sicar deve possibilitar que o usuário receba sugestões para a recomposição e monitoramento do passivo ambiental, indicando métodos de recomposição e as espécies nativas mais adequadas. "Temos que entender o papel do produtor e saber o valor dos serviços ecossistêmicos trazidos nessas informações. A ação está na mão de todos nós", ressaltou.Por fim, o pesquisador divulgou o curso on-line produzido pela Embrapa em parceria com o SFB Recomposição da Vegetação Nativa em APP e ARL no Cerrado, disponível na plataforma Saberes da Floresta, do SFB, e futuramente na plataforma e-Campo, da Embrapa.Também participaram do painel Rubens Benini, diretor de florestas e restauração florestal da The Nature Conservancy (TNC) na América Latina; Claudia Mendes da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e Rafael Diego Nascimento, assessor técnico do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar); e Claudio Cavalcante, coordenador do Centro Integrado de Geoprocessamento e Monitoramento Ambiental da Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Acre.
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