24/10/2024 às 17:24
“Investimentos em conectividade nas áreas rurais aumentam diretamente a produtividade”, afirma Paola Campiello, presidente da ConectarAGRO
Compartilhar
A ConectarAGRO, em parceria com a Universidade Federal de Viçosa (UFV), divulgou recentemente uma nova atualização do Indicador de Conectividade Rural (ICR), ferramenta que mede o grau de conectividade em áreas rurais e remotas do Brasil. Os dados mais recentes revelam que 23,8% da área agrícola do país já conta com cobertura 4G e 5G, um avanço de 4,8 pontos percentuais em relação ao levantamento de abril, que apontava 19%. As regiões Sul e Sudeste se destacam com os maiores níveis de cobertura, impulsionando esse crescimento.Para aprofundar o entendimento sobre esses números e as perspectivas para a conectividade rural, a equipe do Broto conversou com Paola Campiello, presidente da ConectarAGRO. Segundo Campiello, o aumento da conectividade pode ser atribuído a diversos fatores, como a expansão da rede em regiões próximas a cidades e rodovias, áreas com maior concentração de pequenas propriedades rurais. “Esse avanço na inclusão digital nas zonas produtivas tem impacto direto no crescimento do Indicador”, afirmou.Parcerias e investimentos como solução de longo prazoCampiello acredita que as parcerias entre os setores público e privado são essenciais para expandir a conectividade no campo, especialmente com a ampliação das redes 4G e 5G. Ela defende incentivos fiscais e o uso de frequências disponíveis, como a de 700 MHz, para alcançar regiões mais isoladas. Além disso, ela destaca a importância da criação de redes comunitárias de conectividade, financiadas por cooperativas agrícolas ou consórcios regionais, como uma estratégia viável para levar internet a áreas rurais.A conectividade rural é diretamente relacionada ao aumento da produtividade agrícola, permitindo que os produtores acessem dados em tempo real, essenciais para decisões mais precisas, como o manejo de irrigação e colheita. O acesso à internet também facilita a adoção de tecnologias avançadas, como a agricultura de precisão, que depende de conectividade estável para operar sensores, drones e maquinário automatizado. Esses sistemas otimizam os recursos e aumentam a eficiência na produção.Desafios além da conectividadeContudo, a transformação digital no campo enfrenta outros desafios estruturais. A capacitação da mão de obra é um dos principais obstáculos, já que a modernização tecnológica exige trabalhadores qualificados para operar equipamentos, interpretar dados e adotar novas práticas.“O apoio contínuo através de consultorias e assistência técnica também é essencial para garantir que os produtores possam tirar o máximo proveito das tecnologias disponíveis”, afirma Campiello.Outro ponto crucial identificado por Paola é o acesso ao financiamento, especialmente para pequenos e médios produtores, que enfrentam dificuldades para obter crédito para modernização tecnológica. A infraestrutura logística também precisa ser aprimorada para que o aumento de produtividade proporcionado pelas novas tecnologias se traduza em eficiência no transporte e armazenamento de produtos.Energia e conectividade: barreiras interligadasAlém da conectividade, a qualidade do fornecimento de energia elétrica é uma questão vital para o avanço da digitalização no campo, pontua a presidente. Em estados como Mato Grosso, onde o fornecimento de energia é precário, a implementação de tecnologias modernas, como as redes 4G e 5G, enfrenta grandes obstáculos.“A energia confiável é essencial para operar sistemas automatizados e soluções digitais no agronegócio, e a falta dela impede o avanço dessas tecnologias, comprometendo a eficiência e a inovação no setor agrícola” complementa Campiello.Fust: um caminho para acelerar a conectividadeA ConectarAGRO também tem trabalhado em projetos relacionados ao Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust), que visa levar telefonia e internet a regiões isoladas ou com infraestrutura inadequada. O Fust conta com um Conselho Gestor composto por representantes do governo, operadoras de telecomunicações e membros da sociedade civil, que definem prioridades para o uso dos recursos em iniciativas voltadas à inclusão digital.Um dos projetos em avaliação pela ConectarAGRO, em parceria com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), envolve a implementação da conectividade 4G na frequência de 700 MHz em áreas rurais. A utilização do Fust tem o potencial de acelerar a transformação digital no campo, facilitando a aplicação de novas tecnologias e promovendo um crescimento sustentável na produtividade agrícola.A nova atualização do ICR mostra um avanço promissor na inclusão digital do campo brasileiro, mas ainda há desafios significativos a serem enfrentados. Parcerias público-privadas, investimentos em infraestrutura de energia e maior qualificação da mão de obra são essenciais para que a transformação digital no agronegócio continue evoluindo de maneira sustentável, ampliando a competitividade do Brasil no cenário global.
Compartilhar