06/12/2024 às 16:18
ESPECIAL: Avanço das tecnologias de monitoramento é essencial para a expansão dos seguros rurais no Brasil
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Na segunda parte da entrevista exclusiva concedido ao Broto, Paulo Hora, Superintendente Executivo de Negócios e Soluções Rurais da Brasilseg, abordou a integração das novas tecnologias e inovações ao mercado de seguros rurais, um setor em constante evolução.Exemplo disso, detalhou Hora, é a utilização pela Brasilseg de dados geográficos e climáticos detalhados para gerir suas apólices, com mais de 64 mil contratos de seguros agrícolas analisados e 36 mil inspeções realizadas remotamente.No bate-papo, o superintendente ressalta o crescimento de seguros paramétricos, onde os pagamentos de indenização dependem de índices predefinidos como precipitação ou temperatura, oferecendo maior agilidade e eficiência.Para o futuro próximo, Hora aponta como desafios a estabilização do programa de seguro rural no Brasil, especialmente no que se refere ao Programa de Subvenção ao Prêmio de Seguro Rural (PSR), visando uma maior abrangência e universalização da proteção.O mercado precisa superar a concentração das contratações em poucas culturas e regiões, avançando para uma maior pulverização dos riscos. A expectativa é de que a inovação tecnológica e a coleta de dados mais granulares permitam a criação de produtos de seguros mais personalizados e acessíveis a uma gama mais ampla de produtores rurais, incluindo os pequenos e médios.Entre as principais demandas dos produtores, Hora menciona a necessidade de maiores coberturas e produtos mais personalizados, além de um processo simplificado de contratação. A redução da assimetria de informação por meio de dados confiáveis é vista como essencial para atender a essas demandas, enquanto questões como preço e clareza nas coberturas continuam sendo pontos cruciais nas negociações.Para quem perdeu a primeira parte, clique aqui para ler.Confira a segunda e última parte da entrevista: Broto: Como o mercado segurador acompanha a cobertura das novas tecnologias que surgem a cada dia no campo?Paulo Hora: Esse é um tema central para os negócios de seguros rurais. A tecnologia é fundamental nesse processo. Com o avanço e investimento em tecnologia as seguradoras estão fortalecendo seus processos e modelos de negócio em vários aspectos.O primeiro deles é na captura, análise e modelagem de dados. Os engenheiros, agrônomos, agrometeorologistas, biólogos, atuários e cientistas de dados estão cada vez mais inseridos nesse mercado que tem um potencial imenso para esses profissionais. As empresas globais de seguros e resseguros têm investido fortemente nas suas próprias áreas de P&D. Temos buscado sofisticar os modelos de capital das empresas, os modelos de subscrição e precificação do risco.A Brasilseg, por exemplo, tem 100% das suas apólices de seguro agrícola com todas as glebas e talhões segurados identificados geograficamente e esses polígonos compõe um banco de dados para construção de layers de dados com diversas informações sobre o uso da terra e todas as demais variáveis geográficas, biológicas e climáticas que possam impactar aquele risco. Essas áreas são monitoradas desde a subscrição do risco até a regulação de um sinistro.Em 2023 foram mais de 64 mil apólices de seguros agrícolas analisadas por geoprocessamento de dados; e mais de 6 milhões de hectares avaliados. Realizamos mais de 36 mil inspeções de forma remota com uso de imagens de satélite identificando uso do solo nas safras anteriores, datas de plantio, enquadramentos no zoneamento agrícola de risco climático, zarc; validação de cultivos; análise de desenvolvimento de biomassa; riscos de pragas e doenças; possíveis impactos em quebra de safra nos talhões.O segundo pilar de uso tem sido na evolução da eficiência dos nossos processos e melhoria de jornadas que impactam a experiencia do cliente. Melhores sistemas simplificando o processo de cotação e contratação do seguro; novos meios digitais de comunicação com a seguradora, em especial para acionamento de sinistro e consulta de dados e informações da apólice, além de toda tecnologia empregada no processo de regulação dos sinistros que também estão 100% integrados com plataformas de sensoriamento remoto.E o terceiro foco de uso tem sido justamente no desenvolvimento de produtos e novos modelos de negócio e serviços para o produtor rural. Nós investimos fortemente na construção de uma plataforma digital para o agronegócio que é a plataforma Broto do Banco do Brasil e da BB seguros, onde hoje o produtor tem acesso a diversas soluções financeiras, de seguros e outras soluções para gestão da sua atividade, através da parceria que o Broto bem como diversos parceiros embarcados na sua plataforma digital. Seja para aquisição de máquinas, insumos ou serviços de agricultura de precisão, por exemplo.Também temos na plataforma uma vertical dedicada à gestão do conhecimento onde o time produz cursos e prove informações relevantes para o produtor. O Broto tem o propósito de democratizar o acesso a soluções buscando a inclusão digital do produtor rural. E nós vamos cada vez mais usar esse meio para também promover a cultura da gestão de risco.Em produtos de seguro talvez a novidade mais tecnológica seja as modalidades paramétricas. Essa é uma solução que já é bastante consolidada no mercado internacional. O seguro paramétrico para quem não é familiarizado, é um seguro onde a cobertura é baseada em um índice previamente definido entre as partes e constantes no contrato de seguro. É a partir do acompanhamento desse índice de forma totalmente remota, que quando acionado o gatilho, ocorre a indenização.Como exemplo, pode-se ter um seguro paramétrico baseado em falta de chuva com a cobertura definida para um determinado valor de milímetros de chuva em determinada região, a partir de uma fonte conhecida e confiável, e caso ocorra uma seca que atinja volumes de chuva abaixo desse índice, os produtores que contrataram o seguro são automaticamente indenizados. Os índices na agricultura que podem ser utilizados em produtos de seguro paramétrico são vários, como volume de chuva, temperatura, umidade do solo, ventos, preço de commodities etc.O grande desafio desse tipo de seguro é a capilaridade dos dados e sua correção e interpolação com a localização das áreas seguradas. No Brasil nós temos desafios com estações meteorológicas, sensores e radares, em algumas regiões, enfim, dificuldades com a malha de dados que dificultam a construção dos produtos e confiança dos índices. Na Brasilseg, temos um produto que combina cobertura tradicional de seguro com uma cobertura paramétrica de preço para pecuária.O seguro pecuário faturamento indeniza os pecuaristas de corte quando o faturamento obtido no vencimento da apólice de seguro for menor que o faturamento garantido das apólices, seja por morte de animais (seguro tradicional), ou pela variação negativa do preço da arroba do boi, nos vencimentos determinados (funcionando como um hedge de preço), nesse caso de forma paramétrica. Em 2023, no segundo semestre, com a queda do preço da arroba do boi no mercado, nós indenizamos aos pecuaristas segurados aproximadamente 200 milhões de reais, repondo seu faturamento.E, além desse produto que já é uma realidade, estamos experimentando seguros paramétricos com índices climáticos e de desenvolvimento das culturas, para soja, milho e pastagem. O paramétrico é uma opção a mais de produto. Tem seu espaço para alguns nichos, e precisa de mais robustez de dados e de tecnologia, para avançar no país. Broto: Quais as perspectivas para o mercado de seguro rural no curto e longo prazo?Paulo Hora: Como já abordado, um pouco nas outras perguntas, me parece que o desafio de curto prazo seja estabilizar o programa no Brasil, que hoje está calçado no PSR - Programa de Subvenção ao Prêmio de Seguro Rural. É importante que haja avanços em algumas regulamentações e maior estabilidade de recursos e regras que induzam e fomentem a universalização do seguro rural em todas as regiões do Brasil e suas diversas cadeias.Atualmente, menos de 10% do Valor Bruto de Produção Agropecuária é segurado e estamos concentrando a contratação do seguro em poucas culturas. Apesar do mercado segurador ofertar proteção para mais de 60 culturas, aproximadamente 2/3 das contratações são para as culturas de soja e milho, e temos mais de 60% dos seguros contratados na região sul. Para que um programa de seguro rural seja sustentável precisa ter massificação, dispersão e pulverização dos riscos. Então esse é um primeiro desafio de curto prazo.Olhando mais para frente e superando esses fatores estruturantes, vejo que a cultura de proteção, o desenvolvimento de novos produtos mais personalizados a partir de dados granulares das propriedades rurais, e o uso de tecnologia irá permitir que atinjamos mais cadeias produtivas, segmentos e perfis de produtores tornando o portfólio da seguradora ainda mais abrangente e completo para proteção da agropecuária brasileira. Ademais uma tendencia é incorporar agregação de valor aos produtos a partir de serviços e assistências que contribuam com a gestão de risco das áreas dos clientes segurados, reposicionando a estratégia de portfólio. Broto: Quais vem sendo as principais demandas dos pequenos e médios produtores para as seguradoras?Paulo Hora: As principais demandas são pelo aumento das coberturas dos produtos e uma maior personalização, o que do lado da seguradora o maior desafio é o acesso a dados confiáveis que diminuam a assimetria de informação e permitam esse grau de customização e individualização de forma mensurável. Maior clareza das coberturas e jornadas mais simples também são importantes para os diferentes públicos clientes finais e canais de distribuição dos produtos. Por fim, preço normalmente está entre os temas de maior demanda, o que torna a agenda de subvenção ao prêmio do seguro rural relevante nessa modalidade.
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